Faixa Bônus é um espaço dedicado a registros sobre assuntos variados, extras do último podcast, comentários sobre filmes, seriados, aquisições e leituras de novos ou velhos quadrinhos, enfim, de tudo, um pouco. Preparados?

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Essa mensagem foi veiculada no perfil oficial de Instagram da Panini no dia 12 de novembro, certamente como uma ação de controle de danos devido à divulgação do tradicional catálogo de publicações da editora no dia anterior, em 11 de novembro. O PDF em questão, lista todos os lançamentos com previsão para os meses de novembro e dezembro. Mas qual é a novidade disso? A novidade é que o informativo veio com avisos sobre modificações nas revistas regulares, aumento dos preços e uma sensação inquietante de que as coisas vão mudar para pior… bem pior.

Não tenho preconceito algum com revista mix, desde, é claro, que a seleção seja decente e o momento editorial dos personagens ofereça um custo benefício que corresponda ao investimento. É, eu sei. Sou uma doce criança do verão, do tempo em que o gibi mensal mix era a base, onde o leitor não tinha qualquer informação sobre o que estaria por vir e, portanto, a relação com o seu editor era de completa confiança. Era possível pegar uma Superaventuras Marvel #74 aleatória e se inteirar com o que estava em curso apenas pelas discussões na seção de cartas, conhecer o passado de um personagem por um quiz simpático e, não raro, algum texto informativo sobre um evento do passado recente que começaria a ser explorado dali em diante.

Por mais que houvessem cortes e seus próprios problemas, muitos dos quais só conheceríamos com o advento da era digital, eu me sentia parte de algo. Sentia que, nos bastidores daquele gibi mensal, as pessoas sem rosto se importavam com a minha experiência e por mais hiperinflacionária que fosse aquela vida, eu nunca tive a impressão de que a editora estava me explorando. Então, os cortes, o papel jornal (pisa-brite), o formatinho e a crise de identidade da moeda não eram realmente problemas. Porque, acima de tudo, havia uma relação de confiança entre eu, o Luwig, e seja lá quem estivesse quebrando a cabeça para converter conteúdo de formato americano em algo mais acessível à nossa própria realidade. Isso foi numa outra vida.

Na vida moderna, as coisas mudaram radicalmente. Qualquer redação vive sob vigilância pesada do leitor/consumidor e cada funcionário da cadeia produtiva pode ter seu dia de Winston Smith. De jovens gafanhotos, viramos nós mesmos uma versão do Emmanuel Goldstein, só que, nesse caso, nos insurgimos contra os ditos publishers por menos erros [grotescos], por menos luxo, por preços mais justos ou condizentes à realidade. Por outro lado, nesse mundo invertido, às vezes, as duas forças jogam no mesmo time: tem Winston Smith que usa metáfora de carro popular e tem Emmanuel Goldstein que usa regra de três para racionalizar precificações estapafúrdias.

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Voltando ao catálogo do juízo final, queria desabafar aos senhores sobre de que forma serei afetado:

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1º ) Vinha comprando o Capitão América do Ta-Nehisi Coates; que como vocês bem sabem, sou fã assumido. Como a mensal será cancelada, e o título integrado à revista dos Vingadores, declino com educação: vão para o inferno!

2º) Vinha comprando os encadernados cartonados dessa fase final do Thor pelo Jason Aaron. A lógica era que o run subsequente por Donny Cates continuaria nessa mesma pegada. Errado! Lógica e Panini são organismos estranhos e Odinson passará a sair também dentro de Vingadores. Uma pena, pois também virei fã do Sr. Cates, mas irei igualmente declinar com os usuais bons modos: que raios – invocados pelo Mjolnir – os partam!

3º) Vinha comprando os encadernados cartonados do Detective Comics do Peter Tomasi. Pelo comunicado, vão interromper a sequência de quatro volumes redondinhos e despejar essa série na mensal Batman, junto com o laranja do Scott Synder. Essa vai doer, mas declino também sem perder a compostura: vão sentar num batarangue cego, seus putos!

4º) Vinha comprando o Shazam do Geoff Johns. Como vai fechar na 6ª edição e os despojos vão para a regular da Liga da Justiça: Tchau e foda-se!

5º) Vinha comprando o Superman do Brian Bendis. Como não muda nada, ou talvez mude e fique mais $algado, vai saber… sigo acompanhando: Foda-se!²

6º) Mesma coisa com o Lanterna Verde do Grant Morrison: Foda-se!³

7º) Como gibi nascido das páginas de Evento Leviatã, esperava que Lois Lane de Greg Rucka e Mike Perkins saísse dentro da própria mensal do Super, como encadernado cartonado ou mesmo como minissérie. Ledo engano. Vão compilar as doze edições numa edição capa dura por mais de cem Bolzonazi$. Estendo minha perplexidade aos Invasores de Chip Zdarsky e o Velho Quill. Declinarei dos três e estenderei o meu dedo médio a todos que tiram das respectivas cloacas argumentos para justificar [favoravelmente] essas $andices.

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Saudades do cheirinho de papel pisa-brite pela manhã…
 

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Essa passagem pertence a Criminal¹: Wrong Time, Wrong Place, de Ed Brubaker e o Sean Phillips.

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Enquanto o pai cuida de alguns trabalhos – leia-se assaltos & atrocidades – em cidades circunvizinhas, o pequeno Tracy Lawless é deixado à própria sorte em um motel de beira de estrada. Ele não sabe se ou quando Teeg voltará para apanhá-lo. Tem apenas uns trocados que ele próprio economizou, e usa-os para comer um hambúrguer ou um salgadinho. A única coisa que o seu velho deixou para ele foi um gibizinho sobre um universitário que vira lobisomem e luta kung fu.

No decorrer da história, passamos a acompanhar o cotidiano de Tracy nessa cidadezinha, bem como o conteúdo desse gibi que ele está lendo. Lembra, inclusive, a técnica de narrativa em abismo usada nos Contos do Cargueiro Negro em Watchmen. O detalhe é que Tracy termina de ler a história, mas não é um one-shot, quer dizer, não se encerra ali, deixando-lhe a incógnita do “continua”. Então, ele vai ao sebo local e Walter, o dono, reconhece o gibi com a segunda parte e lhe diz que essa revista teve uma tiragem reduzida. Como é um item de colecionador, Walter diz que pode vendê-la, mas será um pouco mais cara.

¹ A propósito, gravei um Escapistas à Capela sobre Criminal. Já ouviu?

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Se tivesse que escolher apenas um quadro para resumir o momento atual dessa indústria – que já foi – vital, eu escolheria esse último acima, em que o Tracy diz: “Não quero colecionar, só quero ler”. É algo puro. Algo que só uma criança diria em voz alta. Algo que nos esquecemos no meio do caminho, no meio de preços abusivos, tanta capa dura e tanto cinismo. Pois…

Excerto de Pantera Negra #9 (ou Pantera Negra: Uma Nação Sob Nossos Pés, Vol. 3)

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Mal sabia eu que, em 1998, enquanto fingia ler uma lição do livro de Química na sala de aula, estava, na realidade, tendo um vislumbre do meu próprio futuro, reclamando de gibi e enfurecido com um micróbio safado:

Maldito Jamie Delano! Nos vemos semana que vem!

PS.1. Mais inconformismo sobre esse Catálogo do Juízo Final? Ouça o Pilha de Gibis dessa semana.

PS.2. Quer ver um amigo passando vergonha? Vai lá no Black Zombie.

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