Faixa Bônus é um espaço dedicado a registros sobre assuntos variados, extras do último podcast, comentários sobre filmes, seriados, aquisições e leituras de novos ou velhos quadrinhos, enfim, de tudo, um pouco. Preparados?
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“Era uma vez um ser humano que foi o símbolo de uma nação. Um homem que jamais se rendeu. Um homem com a glória estampada em seu sorriso. Um homem que amava seu país acima de tudo e de todos. Um homem que nasceu em outra época. Um tempo em que os vilões tinham honra e o Governo não tinha psicopatas na sua folha de pagamento. Uma época que, na verdade, nunca existiu. Exceto na mente dele.”
Essa passagem é uma adaptação de trechos de Captain America #451 e Marvel Knights Captain America #8, respectivamente escritas por Mark Waid e John Ney Rieber entre 1996 e 2002. São trechos que alimentam a percepção de que Steve Rogers, além de ser um homem fora do seu tempo, talvez esse tempo de ideais idílicos jamais tenha existido fora das estrelas e listras de sua indumentária. Pois, quando se presta mais atenção nele, você começa a notar que a construção do Capitão América tem mais a ver com uma alegoria fracassada das melhores aspirações estadunidenses do que um estandarte acrítico daquele país.
Como leitor do personagem, hoje em dia, essa é a linha que mais gosto, sobretudo quando o Vibranium no escudo não resiste aos engravatados de Washington.
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Nesse contexto, a persona do supersoldado se torna um Capitão de uma América que não existe, nunca existiu e, diante de variadas circunstâncias, ele até tece críticas e luta abertamente contra o establishment. No run de Mark Waid e Ron Garney, por exemplo, o Presidente Bill Clinton acredita que Steve traiu sua confiança e determina através de um mandado executivo que o herói sequer mais era um cidadão dos Estados Unidos. E eis que, a partir daquele momento, por força de lei, ele deveria ser confinado em solo estrangeiro. Ou seja: ele estava sendo exilado!
As circunstâncias: Clinton acreditava que o Capitão havia traído sua confiança, quando o segredo sobre uma arma de destruição em massa caiu nas mãos de uma nação inimiga. O problema é que só quem conhecia essa informação era o próprio Rogers e o então Presidente. Isso aconteceu em Operação Renascimento, o arco de estreia da dupla criativa, porém, o argumento do vingador sendo desautorizado institucionalmente já havia sido visto na fase escrita por Mark Gruenwald¹.
¹ Se não é a saga mais reverenciada da bibliografia do Capitão América, com certeza é a mais longa. Ela começa na edição #332 em 1987 e conclui em 1989 na #350. No decorrer dela, Rogers passa a se chamar apenas de “O Capitão”, após ser enxotado pelo Governo e substituído por John Walker. Embora sem a presença de Steve Rogers, a maioria dos elementos da série O Falcão e Soldado Invernal saíram daqui.
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“– PRIMEIRO: O Governo custeou o Projeto Renascimento, o Programa para desenvolver um exército de Supersoldados em 1941. SEGUNDO: Você, Steven Grant Rogers, ofereceu-se como voluntário e assinou um contrato concordando em servir seu país até ser liberado pelo Presidente. TERCEIRO: Quando o Projeto foi cancelado após a morte de seu principal cientista, você se tornou o único beneficiário do tratamento. QUARTO: Você concordou verbalmente em servir o país como, digamos, sua mascote oficial. QUINTO: O uniforme que veste foi desenhado e confeccionado por funcionários federais. SEXTO: Seu escudo foi desenhado e confeccionado pelo Governo. SETE: O título ‘Capitão América’ foi criado por um funcionário público. Em resumo, queremos que, de acordo com o contrato ainda vigente, você trabalhe novamente para o país; muito embora, desde que foi encontrado no Ártico, vossa senhoria só tenha operado como agente independente e com bastante regularidade junto aos Vingadores e a SHIELD. Pois bem, devo lembrá-lo que o senhor não se chama Capitão Independente, Capitão Vingador ou tampouco Capitão SHIELD. Seu codinome é Capitão América. Seus serviços para essas agências não constituem alternativas aceitáveis. Doravante, suas atividades como supersoldado da América serão coordenadas por nossa equipe.“
Essa passagem foi adaptada da edição 332. Trata-se de uma longa exposição do Chefe da Comissão de Atividades Super-Humanas dirigida a Steve Rogers. No começo dessa edição, o Capitão havia se apresentado à Casa Branca para reportar a um General seu descontentamento com um Tenente do Exército. Segundo Rogers, o militar delatado estava envolvido no G.I. Max, um projeto não sancionado para criar uma nova linhagem de supersoldados; algo que entrou no seu radar após o combate com Frank “Bazuca” Simpson em Demolidor: A Queda de Murdock – em agosto de 1986.
No entanto, o superior hierárquico está pouco se lixando paras as preocupações do Capitão. Na realidade, isso só deu azo à reprimenda do excerto aí em cima. É dado a ele o prazo de 24 horas para pensar e dizer se aceita ou não os termos do Governo. Se declinar, Rogers terá que enfrentar um processo judicial por sonegação fiscal; se for persistir por conta própria com a atividade super-heroica, ele não poderá nem usar o codinome Capitão América, tampouco o eventual uniforme poderia ter as cores da bandeira. Um membro dessa Comissão até sugere que os Vingadores teriam que expulsá-lo sob pena do grupo perder o acesso de segurança; que na prática, é o que dá legitimidade a atuação da equipe em território nacional.
Por sinal, quem trabalhou bem a questão da busca pelo Acesso de Segurança foi o duo Joe Casey e Scott Kolins na minissérie Os Heróis Mais Poderosos da Terra, publicada integralmente pela Panini em Vingadores Anual #1 (2006). Essa premissa surge com o trâmite burocrático de bastidores, que, sim, amarra mesmo as credenciais oficiais à participação militar do Capitão América. Uma picuinha que sairia do controle nos tempos de David Micheline e John Byrne na revista do grupo, mais especificamente quando o Henry Peter Gyrich, o contato com a Casa Branca, chegou a apitar nas formações e no repasse de orçamento público.
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Numa dessas escalações, chega-se a limitar o número de Vingadores a sete membros, sob a premissa que o Governo começava a enxergá-los como um risco à segurança nacional. Os superiores de Gyrich acreditavam que havia um excedente de super-heróis na organização e isso dificultava o monitoramento da atuação deles. Outros heróis poderiam ser convocados em emergências, mas teriam que se submeter à confirmação de identidade – e isso, o quê, três décadas antes da Guerra Civil, de Mark Millar e Steve McNiven?
Se você estiver curioso, a escrete governista manteve o Homem de Ferro na liderança, seguido do Capitão América, Visão, Feiticeira Escarlate, Fera, Vespa e Falcão. Esse último entrando no lugar do Gavião Arqueiro. Na verdade, o próprio Gyrich exigiu que o Sam integrasse os Vingadores para fazer um aceno às minorias; e, ainda assim, para suprir a indisponibilidade do Pantera Negra. Obviamente, o herói alado fica possesso, porque ele gostaria de participar da equipe pelo seu valor e não porque o Governo Federal queria uma pessoa preta nela. Eventualmente, ele aceita, mas bem à contragosto, e mais por um favor pessoal a Rogers, sobretudo para não colocar em risco o status prioritário da agremiação.
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“- Sete de vocês permanecerão como Vingadores– O restante está fora!”
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No Brasil, isso aconteceu em Heróis da TV #91-92 (1987), ou Avengers #181-183 (1980). A propósito, a capa de George Pérez para a edição #181 é o puro suco de Vingadores. Se eu tivesse que elencar uma arte que representa a essência desse grupo, minha escolha seria ela. Uma página abarrotada de heróis, sendo enxotada pelo engomadinho de suéter verde.
Voltando ao enrosco da Comissão no começo do texto, registre-se que ainda havia um militar que queria que Rogers enfrentasse a Corte Marcial. Só que aí, o (onipresente) Gyrich lembra que, tecnicamente, o Capitão América não fazia parte das Forças Armadas.
Tenho certeza que o “hã…?!” foi universal entre os leitores, mas o tempo relativizou um pouco esse plot twist. A título de exemplo, o John Ney Rieber foi um dos entusiastas dessa reviravolta e a manteve em O Novo Pacto, notadamente quando um tenente bate continência ao ver o Capitão América. Rapidamente, Rogers o demove da ideia e revela que não era um oficial. Na edição #620 do título solo do personagem, numa história de origem do Bucky, Ed Brubaker propõe que ele era Cabo; isto é, a primeira graduação de um militar, sendo só um grau acima do soldado.
Nesse contexto, dá para dizer que o “Capitão” é apenas um nome de fantasia. Noutra conjectura, logo após a queda de Norman Osborn em Reinado Sombrio, ele passa a ser chamado de Comandante Rogers e fica a frente da direção da SHIELD. Numa história alternativa que dá um curso diferente ao clímax da já citada Guerra Civil de Millar, Charles Soule confere ao personagem o status de General. Em Zumbis Marvel, Robert Kirkman o chama de Coronel. Tudo bem que isso não vale para fins de Universo 616, mas dá indícios que autores contemporâneos, não antenados à cronologia, sequer sabem daquele detalhe plantado por Gruenwald.
Na vida real, entretanto, de acordo com leis internacionais sobre guerra, a existência de oficiais é um dos pré-requisitos para a obtenção do estatuto de combatente. Mas certos oficiais podem, entretanto, não dispor de uma patente formal; já que durante o andamento de um conflito, eles podem conseguir um certo nível de autoridade que suplanta a hierarquia convencional. Então, a rigor, eu acho que é isso mesmo: Rogers tem o moral de um “Capitão”, mas no papel, ele não passa de um Cabo reformado.
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“– Cavalheiros, eu ponderei muito sobre o assunto que discutimos ontem. Lamento que, em sã consciência, não possa aceitar seus termos. O Capitão América foi criado para ser um simples soldado, mas eu fiz dele muito mais. Servir o país da maneira que os senhores esperam seria trair minha liberdade pessoal e me colocar numa posição onde poderia comprometer meus ideais. Eu não posso representar o Governo dos Estados Unidos. O Presidente já faz isso. Minha intenção foi a de representar um sonho. Um sonho de liberdade e justiça que não se modifica ao sabor das administrações. No decorrer de nossa História, vários Governos agiram de maneira que nortearam a criação deste país. Meu compromisso para com esses ideais é maior do que a letra de um documento assinado muitos anos atrás. Sinto muito, mas é assim que deve ser. Cavalheiros, creio que isto pertence aos senhores.“
Passadas as 24 horas que a Comissão concedeu a Rogers, ele vai lá, faz o discurso acima e entrega seu escudo. Dentro dele, o uniforme. Sem qualquer cerimônia, Val Cooper começa a agir para arrumar um substituto. São considerados Jack Monroe – que, àquela época, usava a identidade Nômade -, Nick Fury e Sam Wilson. Todos são descartados por um motivo ou outro, mas o do Falcão salta aos olhos; já que, um dos membros da Comissão, que por acaso é negro, fala o seguinte:
“– Imagino que também podemos descartar outro amigo e ex-parceiro de Rogers, Sam Wilson, o Falcão. Receio que o país ainda não esteja pronto para um Capitão América negro.“
É isso mesmo que você leu. O Mark Gruenwald não tinha qualquer receio de colocar o dedo na ferida e, assim como Micheline ali atrás, inseria politicagem e crítica social no gibi regular do Capitão. Mesmo hoje, relendo pela republicação da Panini, é um alívio e tanto saber que o texto se mantém fluido e, bem ou mal, bastante atual. Tanto é que, não por acaso, inspirou muitos elementos do seriado do MCU, em destaque, John Walker, o substituto de Steve Rogers.
No quadrinho, o porte físico de John Walker se assemelha ao de Eddie “Venom” Brock, inclusive os dois compartilham o mesmo corte de cabelo (escovinha). Em dado momento, o próprio Rogers chega a admitir que Walker é bem mais forte que ele. Então, não é por acaso que a parcela leitora da audiência chiou com o franzino Wyatt Russell como o Agente Americano. Claro, a atuação do filho do Kurt é ótima, mas sem qualquer fisicalidade, mesmo quando ele já está com o soro do supersoldado em suas veias.
Mas o que importa para o nosso texto é o Walker de Gruenwald, e sua primeira aparição na saga se dá como o Super Patriota. A origem secreta do personagem nem tem muito mistério e o vincula ao Exército dos Estados Unidos tal qual a premissa do filme Soldado Anônimo (Jarhead, 2005), de Sam Mendes. Walker vive, portanto, uma experiência amarga, de ostracismo, quando se capacita para a guerra, mas se frustra com o cotidiano de marasmo protocolar na tropa. Na primeira oportunidade, ele dá baixa e sai em busca de poderes sobrehumanos para experimentar a adrenalina que não encontrou com a farda.
Ele e Lemar “Estrela Negra” Hoskins conseguem isso com o Mercador do Poder, tornando-se primeiramente lutadores de wrestling. Já como super-herói agenciado, Walker chama a atenção do Governo quando elimina um terrorista num atentado à bomba no Monumento de Washington. A façanha acaba sendo televisionada e lhe dá notoriedade, tanto que recebe a proposta de substituir o Capitão América. Curiosamente, Walker nutre uma certa aversão pelo predecessor, mas precisa engolir o orgulho e ficar anônimo sob o capuz. Por dois motivos: 1) o status e benefícios de ser um operativo governamental; e 2) a identidade secreta mirava a opinião pública, impedindo que os civis não desconfiassem das trocas esporádicas de “donos” do escudo. Mais à frente, essa despersonalização da identidade Capitão América vai gerar muitos problemas.
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No início, Walker tem dificuldades, sobretudo para aprender a manejar o escudo, o que rende uma passagem peculiar, qual seja: o Governo convoca o Treinador para ensiná-lo a técnica de Rogers, especialmente o arremesso estilo bumerangue.
Paralelamente, o Ex-Capitão passa um bom tempo sem aparecer no gibi, o que imagino ter contribuído para que o leitor – da época, em tempo real – pensasse mesmo que Walker era o novo dono da revista. Quando Rogers volta a aparecer, ele está viajando pelo país, bem ressentido, com a barba por fazer e desempregado². Sua ideia é repensar a vida e os próximos passos que dará, agora como um agente livre. Para encurtar a conversa, como era de se imaginar, o experimento de Walker como Capitão América dá errado e, fatalmente, Rogers retoma o seu escudo.
² Isso foi algo que se perdeu, mas, acredite ou não, ele era artista da Marvel Comics.
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Ocorre quase que uma troca, porque Walker assume o uniforme/escudo preto do Capitão clandestino, só que passando a se chamar de Agente Americano. Aliás, isso é muito pouco perto do que perdeu nesse arco: Walker vê os pais sendo pegos no fogo cruzado, mortos por balas que eram para ele!
Na minha opinião, a tragédia pessoal de Walker é o ponto alto da saga. Um momento genuíno de fúria acachapante, com o personagem – antes prestes a ser enforcado – estraçalhando os inimigos sem ligar para a corda partida em seu pescoço. Só viríamos a totalidade da dimensão desse trauma nos Vingadores da Costa Oeste com John Byrne; quando o vemos no privado, conversando com fotos em porta-retratos.
No mais, a ideia de redigir essas linhas partiu da conversa que tive recentemente com Maurício Dantas, no qual discutíamos as HQs Demolidor: Amarelo e Capitão América: Branco. Naquela oportunidade, chegamos a conversar sobre o cansaço que estávamos começando a sentir ante a repetição de temas nesses dois personagens. Com Rogers, creio que os tropos de toda e qualquer história dele tem passado pelos checkpoints de Gruenwald; onde o supersoldado está às voltas com crises existenciais, abandono (contínuo) da identidade heroica e um retorno questionador, voltando-se para uma busca por um novo velho Eu.
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É bem verdade que a turbulência do início do século XXI foi como uma ressuscitação cardiopulmonar (RCP) para o Capitão América, e nos trouxe efervescência e renovação na série Marvel Knights; dos quais até o defenestrado Chuck Austen teve algum êxito ao lado do artista Jae Lee. No entanto, o grande destaque fica por conta da passagem meteórica de Robert Morales, que em pouco tempo explorou a mitologia à luz de fatos bem controversos. Um deles foi no arco Terra Natal – inédito no Brasil! –, onde Rogers, sob ordens de superiores, precisa ir ao Campo de Detenção da Baía de Guantánamo acompanhar a transferência e o julgamento de um historiador iraniano, acusado de traição e terrorismo.
Com arte de Chris Bachalo, o enredo transcorre entre as edições #21-25 e, como se pode imaginar, existe um sem número de críticas ao Estado de Exceção instalado na região costeira de Cuba. A Panini cometeu um verdadeiro crime de guerra ao não publicar essa história que, a nível de discussão sobre política externa, talvez esteja entre as mais importantes do Capitão América.
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Uma injustiça que, por acaso, foi corrigida em parte ao se publicar o outro grande trabalho de Morales: a minissérie Vermelho, Branco e Negro.
Base para a construção do personagem Isaiah Bradley no seriado Falcão e o Soldado Invernal, a tal “Verdade” revela a existência de um esquadrão de cobaias do soro do supersoldado na 2ª Guerra Mundial. Nesse experimento anterior ao de Rogers, vários soldados negros são submetidos a versões beta do composto, pagam com a vida e, ainda assim, são deliberadamente rifados da História oficial.
Há quem diga que a arte cartunesca de Kyle Baker dissipa a seriedade do roteiro, o que eu discordo efusivamente. Acho até que a inversão irônica no traço potencializa o tirambaço que você leva na cara.
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Não obstante, penso que esse boom de boas tramas ficou para trás e ninguém mais deseja ser um escritor do Capitão América como Ed Brubaker. Isto é, um escritor que trouxe à HQ a urgência do thriller de Robert Ludlum e a espionagem internacional de John le Carré, mas também sofreu o descrédito profissional e pecuniário que Jerry Siegel e Joe Shuster sofreram.
Por essas e por outras que, como leitor, me despeço de Steve Rogers. Sempre receptivo às boas memórias de Kirby, DeMatteis, Gruenwald, Waid, Morales e Brubaker.
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Na semana que redigi essas linhas, foi relançada lá fora a revista mensal do Capitão América. A nova equipe criativa é composta por J. M. Straczysnki e Jesus Saiz, que repete a parceria de alguns anos atrás na DC em O Bravo e O Audaz. O primeiro, atualmente, sofre um pouco de descrédito quanto à continuidade dos seus trabalhos; haja vista que vem de uma sequência de abandonos, como nos títulos do Esquadrão Supremo, Superman e da Mulher-Maravilha. Melhor dizendo, por um motivo ou outro, o escritor deixou esses gibis sem, no entanto, concluir às respectivas histórias. Já Saiz, ainda que tenha o nome associado às patacoadas recentes de Jason Aaron no Justiceiro e Nick Spencer no próprio Capitão, trata-se de um artista que vem se notabilizando por suportar o tranco de um título regular e, não raro, com alguns requintes de genialidade.
Posto isso, minhas incertezas sobre a dupla criativa e as certezas sobre o Capitão e suas repetições se esvaíram tão logo li essa edição #1. Para o bem da (minha) verdade, foi a melhor edição #1 que li em muito tempo. E só foi preciso as duas páginas acima. Sim, Rogers pede a Stark que compre o velho edifício residencial em que viveu há um século, com o objetivo de reformá-lo e oferecer aluguéis populares. Em meio a isso, ele lembra de si aos 14 anos de idade, quando se viu órfão de pai e mãe, sendo despejado e conseguindo comida nos lugares mais inesperados; ou melhor, um cenário historicamente factível para o tempo e a localidade novaiorquina³ em que o jovem Capitão cresceu.
³ Também revisitada na graphic novel Pulp, de Ed Brubaker e Sean Phillips.
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No fim, nunca é um fim. Nunca é um adeus. Os gibis de super-heróis nos irritam por seus ciclos, por não entregarem o que queremos, mas isso é a sina do leitor. De reclamar e jurar que não voltará mais àquele personagem, sabendo que estará condenado a voltar para lê-lo e reclamar e fazer outras juras de amor… e ódio.
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Até a próxima semana!
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